Fabio Akita Report

Às vezes filosofando, às vezes sendo pragmático. Por vezes duro e severo, outras mais diplomático. Eventualmente vendendo, eventualmente realizando. Assim é a vida de um consultor em sistemas de informática de grandes empresas. De esquina em esquina, ouvimos histórias interessantes. Não sei se são interessantes, mas vou reportá-las, mesmo assim.

terça-feira, novembro 29, 2005

Evolucionistas VS Criacionistas e a Navalha de Occam

Um assunto tem gerado muita polêmica ultimamente. Na realidade, muito mais polêmica do que eu admitiria como aceitável. Imagino que dentro de 10 anos vamos olhar para esse fato na história e dar gargalhadas ao redor de uma mesa de bar, tomando um chope gelado ao fim da tarde.

O assunto é a atual disputa entre criacionistas e evolucionistas nos Estados Unidos, a maior potência econômica e militar mundial e também um país onde metade de sua população é formada por católicos fervorosos.

Hoje mesmo li uma matéria sobre um casal processando a Universidade California-Berkeley por causa de um website explicando o evolucionismo. Eles acusam que um projeto custeado com dinheiro público esteja em desacordo com as idéias de "Design Inteligente", ou seja, do Criador. Vejam o absurdo neste link.

O conceito é muito simples: para os católicos o mundo foi criado segundo a Gênese: "em sete dias, Deus criou o céu e a Terra … e criou o Homem à sua imagem", bla bla bla. Excelente fantasia para crianças, tão inocente e deslumbrante quanto C.S. Lewis com seu "Crônicas de Nárnia" ou mesmo J.R.R. Tolkien e seu "Lord of the Rings". Um mundo surreal, com suas próprias leis e criaturas fantásticas. Mas uma coisa é uma literatura interessante, outra coisa é querer achar que algum dia falamos no dialeto Quênia dos Elfos.

Os antigos eram sábios. Apesar de muitos pensamentos equivocados criaram tecnologia, filosofia e literatura como jamais vista. Há milênios os hindus, os gregos, os incas e outros grandes povos já estudavam e entendiam o Cosmos. Graças aos movimentos políticos que ganharam força por causa do misticismo das religiões, retrocedemos alguns milênios durante a Idade Média e a histérica Inquisição. Queimamos a Biblioteca de Alexandria, acusamos Kepler, Copérnico, Galileo e tantos outros verdadeiros gênios.

O cérebro humano é a maior conquista de nossa evolução, o divisor de águas entre nós e os primatas. Porém o cérebro é um órgão muito frágil, sensível a qualquer tipo de idéia. Nós imaginamos mundos como se existissem, imaginamos eventos como se fossem verdades e o cérebro não é tão disciplinado a questionar novas idéias: ele as aceita com muita facilidade. Graças a esse defeito genético, que a evolução ainda não pôde consertar, geramos os sacerdotes, os políticos, os corruptos, que se aproveitam da ignorância dos povos para conquistá-los e, mais importante, controlá-los.

Li certa vez, não lembro bem onde, que a primeira coisa que um conquistador deve fazer ao invadir um povo é controlar sua cultura. Acho que era justamente por isso que o Império Romano se alastrou por tão longe por tanto tempo: invada os povos, estabeleça uma administração local, obrigue todos a falar Latin e a reverenciar o Imperador. A Igreja Apostólica Romana foi uma grande arma de conquista dos povos outrora e gerador de caos hoje: veja só o Paquistão, a Caxemira, Israel.

A Bíblia, este produto de literatura que perdura tantos séculos, talvez o maior expoente cultural de todos os tempos e a ao mesmo tempo a maior falácia a que a humanidade foi submetida. Todos sabem o que é, mas ninguém questiona quem o escreveu, nem de onde veio ou quando. A maioria praticamente aceita que Deus escreveu suas linhas diretamente.

Poucos entendem que milhares de anos antes de Cristo, como hoje, os povos tinham suas lendas, mitos e contos populares. Com o comércio entre os países, fenícios, babilônicos, egípcios misturaram suas culturas e suas crenças. Contos eram passados no boca a boca, por centenas de anos. Qualquer um que frequentou uma escola primária brincou de telefone sem fio: a professora diz baixo uma frase na orelha de um aluno e ele repassa da mesma forma ao colega ao lado, até o último aluno da última fileira. Quando esse aluno diz em voz alta a todos o que ouviu, é possível ver como a história mudou radicalmente. Acrescente milhares de pessoas, milhares de anos e centenas de fábulas.

É exatamente o que aconteceu com os contos da Bíblia. Antes de chegar aos hebreus, já era uma miscelânea de contos, até os primeiros manuscritos gerarem o Torá, o nosso atual "Antigo Testamento". Mais do que isso: não havia máquinas de impressão, portanto todas as cópias eram feitas manualmente, à deriva de interpretação dos copistas.

Mais ainda, quando traduzida do hebreu para o grego, do grego para o romano, mais mudanças de interpretação. Depois dos eventos de Jesus, Roma, a suposta cruxificação, a suposta ressurreição e outros delírios, quando a Igreja se tornou forte, quando Constantino se converteu ao catolicismo lá por volta de 1.400 é que a Bíblia começou a tomar sua forma atual. O Império escolhia a dedo que textos se tornariam cânons e quais seriam unilateralmente considerados apócrifos. Dessa escolha burocrática e política de comitê, surgia a compilação atual da Bíblia, com os quatro conhecidos evangelhos -- mesmo eles, sem uma autoria única, mas um compilado de diversos textos como análises já demonstraram.

A atual massa popular católica nem imagina que neste século já descobrimos os Manuscritos do Mar Morto, os Evangelhos Apócrifos de Nag Hammadi, representando uma parcela grande de textos que não encontraram espaço dentro da Bíblia politicamente costurada pela Igreja da época.

Na atualidade ainda fizemos mais mudanças quando no Iluminismo, Martinho Lutero pegou versões mais antigas -- não me recordo agora se em hebreu ou em grego -- e as traduziu ao francês, gerando a vertente do protestantismo, com uma Bíblia diferente dos católicos.

Tudo isso mostra alguns milênios de um emaranhado de textos que foram modificados por um sem número de escritores anônimos. Se havia alguma verdade nesses mitos, eles foram completamente distorcidos pelo tempo e pela interpretação de pessoas preconceituosas. Mesmo se pegarmos duas Bíblias hoje, elas terão diversos trechos divergentes entre si.

Por outro lado, felizmente tivemos o fim da Idade Média, o Renascentismo e a retomada do pensamento que parou na época dos gregos de Alexandria, séculos antes. Uma nova geração de pensadores voltou às raízes e ao questionamento saudável que resultou em toda a tecnologia que temos hoje e que ainda alcançaremos no futuro. Leonardo Da Vinci, Sir. Isaac Newton são alguns bons exemplos dessa recém-nascida geração. Robert Goddard, Albert Einstein, Stephen Hawking são bons exemplos da nossa geração.

Mesmo assim, uma parcela significativa da população parece preferir a Idade Média, a Era das Trevas. "Ignorance is Bliss", já diziam alguns. Charles Darwin sentiu isso na pele, um corajoso teólogo que fez deduções impressionantes e que continuam atuais até hoje: de que todos os seres vivos do planeta estão em constante mudança e evolução. Que espécies nascem e se extinguem. Que todos tem uma origem em comum, há milhões de anos. Essas descobertas feitas no século XIX foram provadas no século XX com a descoberta de fósseis antigos, dos nossos ancestrais diretos como o Australopitecus, Homem de Neanderthal e dos dinossauros que nos precederam antes da Era do Gelo.

Já derrubamos praticamente todos os dogmas da Igreja, formulados há milhares de anos. Graças a esse pensamento construtivo e evolutivo, chegamos à Lua, enviamos sondas com rotas para fora do nosso Sistema Solar. E, mesmo assim, essa parcela grande da população prefere pensar que tudo é obra de Deus.

E chegamos ao ponto da polêmica: Criacionistas VS Evolucionistas. Eu diria que a disputa é mais antiga e mais ampla. Eu preferiria dizer: Ignorância VS Razão. Qual é uma das questões fundamentais que a ciência ainda não teve tempo de descobrir? Entendemos que "pode" ter havido um Big Bang que deu origem ao Universo conhecido, mas não sabemos o que havia antes desse instante fundamental. "Deus existia", diria um católico. Pois bem, eu deveria devolver: "e o que havia antes de Deus"? "Deus sempre existiu", replicaria o católico. Pois bem, então eu diria, "se a explicação é que Deus sempre existia, por que não economizar um passo e simplesmente dizer que o Universo sempre existia"? Por que a necessidade de um criador, de um designer?

A Navalha de Occam não serve para explicar isso diretamente mas seu conceito é importante, vejam nesse link. Dentre as várias interpretações, podemos dizer "dentre duas teorias igualmente explicativas, a mais simples é preferível" ou, como Leonardo Da Vinci diria, "Simplicidade é a maior forma de Sofisticação".

Ao fim disso, o que mais me incomoda nessa discussão toda é que as versões da Igreja e da religião em geral sempre levam à acomodação das pessoas. Sempre é mais simples explicar os eventos como "é assim porque Deus quis". Ponto final. Se é assim, não precisamos buscar mais explicações. Ou pior, "acontecerá, se Deus quiser". Significa que devemos colocar nossos traseiros na cadeira e esperar sentados pois somente se Deus quiser acontecerá, e não precisamos fazer nada para que aconteça. Ou o que mais me deixa irritado, "deu certo, graças a Deus". Quer dizer, não há valor no esforço dos homens porque no final as coisas só acontecerão se Deus quiser.

Pior ainda: os americanos -- e por inércia, muitos outros povos no mundo, incluindo o nosso no Brasil -- estão tentando forçar a próxima geração a pensar menos, a se esforçar menos, a se conformar mais. Querem forçar a volta da Idade Média. Crentes, evangélicos, católicos, protestantes, para que tudo isso? Se existe necessidade de uma religião, fiquemos com apenas uma, a religião da Ciência. Uma religião que incentiva o pensamento crítico, que premia o esforço individual, que não aceita afirmações infundadas, que questiona e busca evidências, que nos leva no caminho evolutivo darwinista do mais forte.

Shame on you.

segunda-feira, novembro 28, 2005

Educação no Brasil

Ouvi na rádio hoje uma afirmativa de um ex-ministro da Educação, se não me engano, que me fez pensar. A matéria girava em torno da afirmação de que a participação do estado no ensino fundamental e médio aumentou numa proporsão inversa à da participação no ensino superior, hoje largamente explorada pela iniciativa privada. Por causa dos esforços do governo na fundação do ensino, aumentou a demanda de pessoas precisando de ensino superior numa taxa maior do que o ensino público poderia suprir, portanto, abrindo oportunidade para empresas privadas.

Não faz sentido. Penso de outra forma: existe negligência generalizada do estado em todas as etapas do ensino, desde o fundamental até o superior. Explorando o problema do ensino superior vejo da seguinte forma: o mercado cada vez mais exige uma mão de obra especializada -- que no RH das empresas significa pré-requisito mínimo de diploma universitário. Por outro lado a qualidade do ensino fundamental e médio público vêm caindo vertiginosamente, derrubando quaisquer chances de estudantes de colégios públicos a concorrer nas melhores universidades públicas como a USP, Unicamp ou outras Federais ou Estaduais. Por causa disso, as empresas privadas colocaram no mercado produtos de extrema baixa qualidade onde qualquer um consegue passar.

Veja o vestibular da Fuvest, um dos mais difíceis do país. A falta de investimentos derruba cada vez mais a oferta de vagas e a pressão do mercado exige cada vez mais formados. Isso eleva a dificuldade da prova a cada ano. Lembro em 1994, quando estudei no Objetivo, preparatório para esse tipo de vestibular. Felizmente tive condições para frequentar aulas direcionadas em passar alunos na Fuvest, no ITA e nas outras grandes, estudando 8 horas diárias e ininterruptas. Obviamente, com a qualidade do estudo que tive, pude passar em 3 faculdades que escolhi, todas em primeira opção. Fiquei com a USP. E ainda assim, lembro que não passei com muita folga na nota.

Por outro lado, 2 anos atrás, por diversão, resolvi tentar o vestibular da faculdade Anhembi-Morumbi. Lembro que marquei para um sábado de manhã. Na noite anterior de sexta participei de 3 baladas até a madrugada, com muita música, muita bebida. Não fiz nenhum esforço de preparação, não passei horas estudando, absolutamente nada. Fiz a prova com tranquilidade, acabando muito antes do tempo mínimo e passei sem problemas. Isso ilustra bem uma coisa que comentamos a boca pequena: basta passar o RG por baixo da porta e você já está matriculado. E é fácil explicar isso: com uma oferta crescente de vagas do ensino superior dessas instituições de baixa qualidade faz o vestibular ser extremamente fácil, com notas de corte ridículas. O objetivo de um vestibular é filtrar os estudantes, onde a oferta é muito menor do que a procura. No caso do ensino superior, imagino que haja muito mais oferta do que procura. Nem precisaria haver vestibular: há vagas para todos. O vestibular, nesse caso, é meramente de aparência.

Nesse assunto, lembro também de outro assunto que correu na imprensa há alguns meses: a tal da cota para negros e outras classes menos privilegiadas. Se não me engano, a idéia era reservar uma cota das já escassas vagas das universidades públicas para essa população mais carente. De longe, uma das idéias mais absurdas que já tive o desprazer de ouvir. O governo quer, artificialmente, colocar pessoas sem nenhum preparo para desperdiçar as poucas boas cadeiras das faculdades. Devo lembrar que essas faculdades são boas, muito boas, e como tal tem um nível de exigência muito grande também. As pessoas precisam se dedicar praticamente tempo integral ao curso, comprar bons livros, bons materiais. A faculdade não dá material. Lembro até no começo de uma das aulas onde o professor recomendava livros em espanhol e alemão! Me diga onde essas pessoas de classes menos privilegiadas vão tirar conhecimento para acessar literatura estrangeira, ter tempo para se dedicar aos estudos e à pesquisa? Pior ainda: como vão conseguir acompanhar aulas tão exigentes sem ter o mínimo requerido para isso? É justamente para isso que serve o vestibular: somente os que têm condições podem entrar.

Esse comentário faz parecer que sou um aristocrata das elites, que estou querendo elitizar os cursos, que não me importo pelas classes mais pobres, bla bla bla. Que tal olhar um palmo à frente do nariz: o fato dessas pessoas serem tão desqualificadas para acompanhar esses cursos não é culpa exclusiva deles, é sim culpa de um ensino fundamental e médio de qualidade inexistente. O fato é que o ensino médio público brasileiro é lamentável. Fosse o contrário, não precisaríamos estar discutindo gambiarras como essas "cotas".

Vocês sabem ler, vejam 3 exemplos famosos: o Japão após a derrota na Segunda Grande Guerra estava devastada. A Coréia do Sul nos anos 50 era pior do que o Brasil após as guerras civis. A Índia nem se fala, até hoje há regiões perigosas. Todos esses países, que há 20 ou 30 anos eram motivo de piada, hoje podem gargalhar abertamente de nós. Todas elas fizeram o básico que não fizemos: investimentos pesados e maciços em ensino público fundamental e médio de excelente qualidade. Não lembro se em todos esses países, o ensino superior é basicamente privado -- e de qualidade. A explicação é simples: com um ensino fundamental de excelente qualidade, não precisamos de "cotas". E pelo lado contrário: as empresas privadas se vêem obrigadas a oferecer cursos superiores de qualidade para estudantes exigentes. Vejam esse link.

O Governo não tem interesse em investir em educação: é um processo lento, demorado, que normalmente só dá frutos daqui 2 gerações. Resumindo: não vence as próximas eleições. É ordens de grandeza mais simples construir uma grande ponte e dizer que gera empregos de operários para algumas centenas de pessoas. O eleitorado compra imediatamente o candidato.  Resultado da sua ignorância. Ou seja: os políticos ganham duas vezes não investimento em educação, afinal é mais simples convencer um eleitorado burro. 90% da população é considerado analfabeta funcional (sabe-se ler o bê-a-bá mas não se consegue interpretar mais do que frases curtas e diretas, ou seja, não se consegue entender as sutilezas de uma explicação política sobre corrupção nos jornais).

Sinto isso na prática: é extremamente difícil contratar profissionais especializados de qualidade. As faculdades privadas têm um nível muito ruim, e gera graduados de nível ainda pior. Já contratei e mandei embora vários deles. O que fatalmente vai acontecer é o que já faço: ignoro completamente a formação superior do candidato, prefiro olhar exclusivamente para as experiências anteriores dele e decido sobre isso. Significa que dificilmente contrato um recém-formado, a menos que seja um pós-graduado da Unicamp.

Tecnologia é uma carreira das elites, não vai mudar. O estudante precisa ter tido os recursos, computador em casa, livros próprios. Caso contrário não serve para nosso mercado. E isso é culpa única e exclusiva do ENSINO PÚBLICO FUNDAMENTAL E MÉDIO de qualidade zero. Tivéssemos feito com a Índia e investido em educação 20 anos atrás, hoje seríamos como eles: a maior potência em desenvolvimento de software do mundo. Tivéssemos feito como a Coréia do Sul 20 anos atrás, hoje seríamos o maior pólo tecnológico do planeta, com as melhores tecnologias de telecomunicações, biotecnologia. Tivéssemos feito como o Japão 40 anos atrás, hoje poderíamos ser a segunda economia do planeta. Pensem: o Japão mal tem o tamanho físico do Rio de Janeiro, metade disso é vulcão ativo, a outra metade sofre com terremotos, maremotos, furacões. Além disso levaram 2 bombas atômicas e ainda assim são a segunda maior economia do planeta. Por outro lado o Brasil é um dos maiores territórios do mundo, com a maior floresta tropical do planeta, não temos terremoto, não temos maremoto, temos terra sobrando, e estamos misturados na lista das economias do mundo junto com os piores do mundo.

Tudo porque não fizemos o que deveríamos algumas décadas atrás e continuamos não fazendo. A culpa de tudo isso? Olhem-se no espelho: eis seu culpado. O problema do Brasil são os brasileiros. O problema não é deste governo, ou do anterior. Deste presidente ou do anterior. A culpa é de todo brasileiro.

Shame on you.

domingo, novembro 20, 2005

Information Overload

Eu leio muito, talvez menos do que gostaria. Mesmo assim as pessoas às vezes se impressionam com o pouco que sei. Como tenho consciência da minha própria ignorância, como Sócrates, só posso dizer que "só sei que nada sei".

Ontem mesmo, saí para tomar uma cerveja com alguns amigos do trabalho. Conversa que pulou pro lado técnico, já que somos todos consultores discutindo tecnologia. A conversa desviou para alguns assuntos do "arco da velha" já que ele era mais velho do que eu e estávamos voltando no tempo até anos 60 e 70.

É engraçado lembrar que comecei a gostar de computadores brincando com o MSX Hotbit do meu primo, isso lá para o meio da década de 80. Meu primeiro computador, ganhei do meu pai lá para 1989 ou 90, um PC-XT de 1Mb de RAM (pense hoje num computador de 1Gb de RAM) e um winchester (como chamávamos os HDs antes) de incríveis 20Mb (pense hoje em 200Gb). Tudo que tinha como programas eram o MS-DOS 3.3 e o dBase III Plus que meu tio instalara para mim. Minha diversão era aprender dBase.

Com o tempo pulei para o Clipper. Fiz vários programas comerciais até os 15 anos. Eu era bem limitado nessa época. Não tínhamos internet, tudo que sabia era o pouco que eu lia em revistas como Micro Sistemas e os poucos livros que podia comprar. Enfim, em 1995 entrei na faculdade, no Instituto de Matemática e Estatística da USP. Aprendi muito sobre Pascal, com o bom e velho Turbo Pascal 7.

Finalmente, consegui um bico como monitor da sala de computadores do CCE, na Politécnica. Foi onde tive meus primeiros contatos com a internet, passeando pelos backbones da Fapesp, fazendo downloads dos servidores FTP da Unicamp. Antes disso, o máximo que já havia experimentado eram as BBS, entre 1992 e 1994, com nossos velhos modens de 1200 e depois 9600bps. Modems de 14.400bps eram nossa ¨banda larga".

Na faculdade foi onde finalmente tive mais contato com a informação que me faltava. Aprimorei meu Pascal, depois Object Pascal. Conheci o Java baixando dos servidores da Unicamp antes ainda da versão 1.0, quando era conhecido pelo seu codinome ¨Oak". Ainda não entendia nada de orientação a objeto. Finalmente, deixei o Clipper de lado.

Comecei a aprender muito rápido. A partir de 1996, pude fazer parte da maior revolução de todos os tempos: a Internet. Na época tínhamos o Yahoo!, AOL, até mesmo a Amazon começava a dar seus primeiros passos, permitindo que pudéssemos ter acesso a diversos livros que hoje encontramos facilmente nas maiores livrarias. Gastei muito do pouco dinheiro que ganhava comprando livros.

Lembro até mesmo que antes da faculdade só havia lido alguns poucos livros de informática e todos em português. O inglês me intimidava. Escrevi antes que fizera um curso ruim durante o colégio, e nunca me aprimorara. Então, comecei a conhecer pessoas na faculdade que liam livros importados com a facilidade que um cidadão comum lê o jornal. Isso despertou inveja em mim (sou uma pessoa muito invejosa): "se eles podem, também posso". Fiz o mesmo: aprimorei meu inglês literalmente on-demand. Foi importante porque tudo na internet foi, é e sempre será em inglês.

Resolvi aprender de tudo, pulei do Turbo Pascal para Delphi, trabalhei em produtoras Web em pleno nascimento do fenômeno que alguns anos depois conheceríamos como a "Bolha da Internet". A Macromedia estava começando a atualizar suas ferramentas, o Flash acabara de ser inventado, o Director estava sendo atualizado com tecnologia Shockwave. Marc Andressen já tinha seu Netscape 2 famoso. HTML, Dreamweaver, Photoshop, programação Lingo no Director, ActionScript no Flash, Javascript, VBScript, queria aprender de tudo.

Desenvolvi tudo que podia dentro dessas limitações e logo me deparei com o mundo server-side. Fui trabalhar com SQL Server 6.5, ASP 2.0. Desenvolvi sistemas corporativos do zero nos paradigmas do thin-client, server-side, ou front-end web para bancos de dados. Desenvolvi portais internacionais, componentização, ferramentas de gerenciamento de conteúdo.

Nesse tempo todo, assimilava todas as novidades, mas sempre me lembrava da época que ainda nem tinha um computador, nos saudosos fins dos anos 80. Nessa época comprei uma curiosa revista da Disney (que infelizmente não encontro mais), onde diversos personagens como Pardal, Pateta, prof. Ludovico e outros explicavam a história do computador. Foi uma coisa inusitada, uma revista infantil apresentando detalhes tão fascinantes como Charles Babbage e seu Engenho Diferencial de 1822, Alan Turing, Blaise Pascal e sua Pascalina, o ENIAC. Tudo mesmo, desde a contagem com os dedos, pedrinhas, até cartões perfurados, mainframes e culminando com o microcomputador doméstico.

Havia vários encartes sobre o que de mais avançado havia naquela época: o primeiro Macintosh. Lembro até da propaganda do clone brasileiro do Mac, o Unitron. Havia meus sonhos de consumo como o outro brasileiro CP-500 ou mesmo o moderníssimo Gradiente MSX. De qualquer forma, a história do computador, por alguma razão, sempre me fascinou.

Então, quando tive acesso à informação online, com Yahoo!, Webcrawler e outros tantos índices, sempre retornava às raízes. A História do DOS, a História do Windows, a História do Macintosh, a História das Linguagens de Programação, a História dos Sistemas Operacionais, a História da Criptografia, a História da Internet. Até hoje leio, releio e aprendo cada vez mais coisas interessantes.

Um fato curioso é que aqueles que tiveram a chance de viver a década de 70, pôde trabalhar nos mainframes como COBOL, tiveram que fazer programas em Fortran nos cartões perfurados, têm grande dificuldade em entender a linha evolucionária e tantas novidades como HTML, Java, ASP, Windows. Por outro lado, todos os moleques que atualmente costumam ser defensores (eu diria, ¨rebeldes sem causa") do Linux e do Java, não tem muita idéia do que era um mainframe, de onde surgiu o Java, de porque Linus Torvalds criou o Linux. Eles tendem a "acreditar" que Java sempre existiu e sempre continuará existindo, sem associar a evolução das coisas.

Estamos vivendo ainda na infância da informática como um todo. O campo da engenharia têm milênios (lembram das pirâmides?), o campo da informática mal tem 50 anos. Frederick Brooks já escrevera na década de 60 sobre "The Mythical Man Month", mas 30 anos depois continuamos a realizar os mesmos erros dos desbravadores que originalmente escreveram o OS 360. Tecnologias nasceram, ganharam fama e morreram. Quem se lembra do CICS? Cobol? Fortran? Cartão Perfurado? O Java está hoje, com 10 anos, no meio de sua vida útil, inclusive há aqueles como Bruce Tate que já profetizam seu breve fim.

A maioria das pessoas parece ignorar que estamos numa época que já fora batizado de "Era da Informação", e não ao acaso. Quero chegar ao ponto onde, independente se estamos falando de tecnologia, política, filosofia, psicologia, as pessoas sempre têm opiniões (que acreditam ser sempre verdade) sem ter o mínimo de conhecimento necessário para tecer tal opinião. E não falo apenas das pessoas de baixa renda. Olho ao redor, revejo presente e passado e vejo um grande desrespeito pelos criadores da linguagem escrita, o que pensaria Gutemberg se visse o desdém com que encaramos essa quantidade enorme e rica de informações presentes e passadas?

Alguns séculos atrás, queimamos a Biblioteca de Alexandria. Hoje simplesmente ignoramos nossa própria Alexandria Digital, erguida com tanto custo. E não apenas as pessoas lêem e se instruem pouco. Muitas delas ainda desperdiçam nosso pouco tempo de vida lendo inutilidades, futilidades. É mil vezes pior envenenar a próprio mente com essas leituras de tal ridícula qualidade do que não ler nada.

Criaram um termo chamado "Information Overload", algum tempo atrás, nem sei se ainda é usada. Um dos efeitos dessa quantidade massiva de informações e velocidade cada vez mais acelerada de mudanças, algumas pessoas apresentam sintomas como ansiedade, estresse e até mesmo "Information Fatigue Symdrome". Mas vou além e digo que mais da metada de toda essa informação "exagerada" consumida diariamente não passa de informação descartável: as últimas opiniões sobre o futebol, as últimas fofocas das celebridades, etc.

Ontem mesmo, um amigo meu contou que quando mandaram uma consultora embora de uma empresa, vasculharam seu micro. Ela era uma viciada em chat via MSN Messenger. Com os históricos, chegaram à conclusão que do total de 3 anos de trabalhos, ela gastara o equivalente a 2 anos só em conversas pela internet. Isso é, de fato, "Information Overload", mas acho que mudaria esse termo para "Junk Overload".

No fim da conversa, meu amigo achou intrigante que eu conhecesse coisas como Haskell, Eiffel, Bertrand Meyer. É claro que sei, apesar de não ensinarem essas coisas na faculdade, posso dizer que procuro manter uma pesquisa e leitura de boa qualidade. O que o intrigou, imagino, foi justamente essa percepção que todos nós temos que assuntos como esse -- que não são ensinados, que não são populares -- simplesmente não são aprendidos mesmo por pessoas de um ramo que deveria, por obrigação, conhecer suas raízes. Em tempo: Bertrand Meyer é o criador da linguagem orientada a objetos, Eiffel. Seus trabalhos são referência no mundo da programação, inspirando até mesmo os criadores do Java. Porém, pergunte isso a qualquer graduando de faculdades de informática. Garanto que todos os programadores sabem muito bem a história de um Ronaldinho Gaúcho, mas não tem nem idéia da história daquilo que estão se propondo a trabalhar.

Isso é bastante depressivo e mesmo depreciativo para meu ramo. Não sei como é nos outros países mas acredito não ser muito diferente. Deve ser por isso mesmo que nosso país, desde a criação da Internet, não tenha contribuído com absolutamente nada relevante ao desenvolvimento das tecnologias da Internet. A única coisa que o brasileiro sabe fazer é congestionar os servidores do Orkut, já que 70% de seus usuários são tupiniquins, que não tem outra ocupação na nossa Alexandria Digital senão desperdiçar tempo com futilidades. Como podem ver, nós sempre ficamos no topo dos rankings desfavoráveis, ou vocês acham que ser 70% do Orkut é motivo de orgulho para alguma coisa?

Shame on you.

sexta-feira, novembro 11, 2005

Os Anti-líderes

É notável a quantidade de e-mails que recebemos todos os dias. Graças ao meu Gmail filtro a grande maioria dos spams que recebo. Aliás, uma boa dica que utilizo é redirecionar todos os meus e-mails para o Gmail. Depois posso fazer download todos de uma vez no meu Outlook, sem perder tempo com os miseráveis spams (morte aos spammers!).

De qualquer forma, diversos amigos me mandam e-mails interessantes. Hoje recebi o seguinte texto (de fonte desconhecida, sorry):

De acordo com o livro Vidas, de Plutarco, mesmo um soldado sem destaque vindo de outro comando, ao fazer parte do exército de Júlio César, mudava até de aspecto. Ele se tornava destemido diante dos perigos e avançava com ímpeto. Por que isto ocorria? Em síntese, o segredo estava no fato de César prezar seus soldados, de reconhecer e de recompensar o mérito de cada um. Com isso, todos se sentiam motivados a agir como força motriz para conquistar a vitória.

Agradecer sincera e profundamente dizendo “muito obrigado” parece ser muito simples. Porém, na prática, não é. O comportamento e as palavras dos líderes influenciam tanto positiva como negativamente uma pessoa. Tudo depende do líder.

Júlio César não poupou esforços para premiar e dar honrarias aos soldados valorosos. Ele os elogiava dizendo: “Graças à bravura de vocês, conseguimos conquistar a vitória.” Ao contrário, há líderes que mesmo observando os esforços de seus companheiros, nunca os elogiam. Pelo contrário, somente os humilham. Se agir dessa forma, ninguém mais terá vontade de atuar pelo sucesso de uma atividade. Elogiar o esforço de uma pessoa serve também para estimular a dedicação e o avanço de outros companheiros.

Ele jamais utilizou riquezas obtidas nas batalhas para o seu próprio proveito. Procurou destiná-las para condecorar seus soldados que trabalhavam ativamente. Assim, os soldados que se juntaram a César conseguiram evidenciar a força além da capacidade e venceram. Conseguiram também lutar com admirável disposição e coragem. Isto porque César se expunha ao risco lutando na linha de frente ao lado deles. Na obra Vidas está descrito tal façanha

“É muito mais saborosa a vitória conquistada com a força intelectual do que com a força física”. Esta é uma famosa frase dita por Júlio César. De fato, mais do que a força física, o importante é a sabedoria. A benevolência e a sabedoria se correspondem.

Apesar do estilo próprio dos livros de auto-ajuda executiva, não sei se o conteúdo é verídico mas concordo com a idéia. Grandes líderes fazem grandes equipes. Existem dezenas de livros discorrendo sobre o tema mas não encontrei nenhuma "receita mágica". Alguém já me disse: "não se forma um líder, já se nasce líder". Apesar dos discursos de "todos nascemos iguais" e outras baboseiras, acredito no contrário: algumas pessoas nascem com muito mais potencial do que outras e, mesmo dentre essas, apenas algumas conseguem juntar conhecimento e consciência suficientes para desfrutar de suas capacidades.

Quem já trabalhou em projetos, principalmente com muitas pessoas, tem plena consciência da importância dos líderes, aqueles que detêm um conhecimento acima dos demais, que dá a cara para bater, que faz as coisas da maneira mais prática, que sabe dividir para conquistar (como diria Napoleão), que não perde tempo com burocracias (que apenas servem para esconder os medíocres). Infelizmente, estes são minoria.

A maioria dos "líderes", no nosso caso materializados sobre a forma de "Gerentes", "Coordenadores", "Diretores" e afins, são o extremo oposto disso: normalmente com conhecimentos ínfimos que dão vergonha à sua equipe; a falta de capacidade de se comunicar e de se socializar; as piadas que só fazem sentido a ela; se escondem atrás daqueles diplominhas descartáveis de pós-graduação e MBAs (papel, para mim, não vale nada). Enfim, poderia escrever livros e livros só listando defeittos. Antes de ganharem tal cargo eles já eram ruins, mas parece que a força desse cargo consegue amplificar seus defeitos.

Conheci uma dita "líder" que era assim: petulante, mesquinha, desmotivante, que no calor de um fim de fase teve a ousadia de se pôr perante todos e gritar absurdos como "eu pago seus salários e eu EXIJO o que paguei" e coisas do tipo, em voz alta, desafiadora, desrespeitosa. Como se ninguém estivesse trabalhasse, desse duro, varasse noites, deixasse de ver suas famílias. E ainda não foi só isso: frente à morte da mãe de uma de nossas companheiras, teve a ousadia de dizer absurdos como "se quiserem demonstrar condolências, só o que vocês tem a fazer é entregar o projeto no prazo". Sensibilidade de um pedaço de rocha.

São pessoas assim que acabam com a moral das pessoas, que desajustam o que já é difícil. Eu não ligo, sou consciente do meu papel: "sou pago para entregar o prometido, não sou pago para ser amistoso ou fazer amigos". Sempre soube que consultores, no fundo, são como prostitutas: "ganhamos por hora, o cliente só dá no nosso c..., e o cafetão (a consultoria) é quem leva a grana". A vida é assim, às vezes temos que dar um passo para trás para dar dois para frente.

Eu não ligo, mas a maioria liga, e é péssimo trabalhar ao lado de uma equipe desmotivada.

quinta-feira, novembro 10, 2005

Inglês e Conformismo

Terça e quarta agora (8 e 9/nov) estive num Workshop de apresentação de um novo produto, muito bom por sinal. NDA (Non-Disclosure Agreement): infelizmente nos fizeram assinar esse documento. Pessoalmente não apoio muito esse conceito. Acredito que toda informação deveria ser publicamente "disclosed". Mas algumas vezes realmente podemos acabar comprometendo pessoas e instituições.

Neste Blog, pretendo manter nomes de pessoas, empresas e produtos "non-disclosed", tanto para não quebrar acordos como para não quebrar a ética acidentalmente. A parte ruim é que as informações podem ficar um tanto genéricas, mas a parte não tão ruim é que o importante -- minhas opiniões e reflexões -- não devem perder sentido com isso.

Deixando o assunto do NDA de lado, devo dizer que foi um Workshop interessante, levando em consideração que a maioria não é. Chamemos a empresa responsável de "Giant Blue" (porque Big Blue é notoriamente a IBM, mas não estamos falando dela). Pois bem, a Giant Blue trouxe dois representantes desse novo produto direto de Los Angeles. Portanto, a parte boa é que tivemos informações em primeira mão, tanto sobre as estratégias comerciais como técnicas, diretamente da fonte. Isso não tem preço.

Mas a parte que me incomodou mais foi o seguinte: esse evento foi fechado a funcionários da G.Blue e a representantes de parceiros, eu incluso. Enquanto apenas os gringos falaram tudo correu bem, mas depois tivemos um hands-on: um tipo de test-drive do produto. Nessa hora, eu fiquei pasmo: pessoas consideradas sêniors, profissionais "teoricamente" de bom gabarito, mal conseguiam se comunicar em inglês. Foi uma coisa lamentável. Posso garantir que ninguém entendeu metade do que lhes foi dito. Digo isso porque eu olhava para os rostos das pessoas e todas faziam aquela cara de "duh", alguns coçavam a cabeça, outros ficavam olhando a hora rezando para que essa tortura acabasse logo, outros haviam desencanado completamente e ficaram lendo e-mails. O americano deve ter se sentido no meio de homens das cavernas, tentando expressar algo mais do que "uga-bugas".

Acho até que ele entendeu essa situação e também desencanou: como a quantidade de coisas a dizer era grande, ele pisou no acelerador e mandou ver. Falando muito rápido, intercalando explicações técnicas com observações pessoais e algumas piadas, acredito que a platéia ficava cada vez mais pasma, imaginando "caramba, do que esse gringo está falando?".

Isso é péssimo! Sinto-me muito envergonhado que esses ditos profissionais do mesmo setor que eu mal consigam se expressar com nossos vizinhos. Concordo que nosso país tenha uma séria deficiência em termos de educação. Volto a falar sobre isso em outra oportunidade. Mas esse pessoal representa justamente aquela ponta da pirâmide: os bem abastados, os privilegiados. Ser um "privilegiado" deveria representar mais do que apenas ter dinheiro, mas ter realmente conhecimento. Hoje em dia, não há mais desculpas para não saber inglês fluentemente. Coreanos, no primário, já começam aprendendo SETE (7) línguas, numa rotina de NOVE (9) horas de estudos. Em vez de continuar com essa nossa xenofobia enrustida fantasiada de falso patriotismo, deveríamos aprender mais com nossos vizinhos.

Quando era criança, meus pais me colocaram numa escola japonesa. Durante algum tempo aprendi alguma coisa da língua de origem de meus antepassados. Sinto não ter continuado. Mas nessa época sabia que precisaria aprender inglês, portanto decidi sair das aulas de japonês e ingressar num curso de inglês quando estava no colégio. Mas era um curso muito fraco, notava isso pela extrma baixa qualidade dos meus colegas. Eu mesmo não era muito bom. Era melhor do que a média, mas desde quando ser melhor do que uma média ruim significa alguma coisa?

Na faculdade, ainda não tinha me acostumado. Mas tenho uma qualidade (ou talvez defeito?) que é a inveja: conheci um colega que nessa época devorava livros e livros em inglês. O conhecimento da minha área -- informática -- está toda em inglês ou outras línguas. Os livros nacionais não passam de traduções e, por causa disso, sempre estão defasados. Corroí-me na minha mediocridade e decidi que o ultrapassaria. Esse é o efeito da minha inveja: ultrapassar limites. Desisti de comprar livros em português e resolvi me empenhar a aprender. Nessa época já não fazia mais nenhum curso de línguas, desisti durante meu terceiro colegial para me dedicar ao vestibular. Felizmente passei na primeira opção dos cursos que escolhi, nas três únicas universidades que me interessavam, mas isso também é outra história.

De qualquer forma, desde então me forcei a ler livros, revistas, websites em inglês. Com o advento do DVD pude melhorar mais ainda, assistindo todos os filmes com legendas em inglês e mais tarde sem legenda. Correspondi-me com estrangeiros pela Internet (algo impensável 15 anos atrás) e sempre que tinha a oportunidade, em eventos e congressos, fazia questão de me apresentar aos palestrantes estrangeiros e trocar informações.

Hoje, um evento como os dos dois últimos dias, é algo trivial para mim. Mesmo morando no Brasil, conversando com brasileiros, mantenho meu inglês em dia assistindo vídeos, palestras pela internet, lendo noticiários diários das mais variadas fontes. E os resultados são notáveis, visto que nesse tipo de evento normalmente ninguém consegue engatar numa conversa produtiva por tanto tempo com esses estranhos estrangeiros, quanto eu. E isso não é nada demais. Não sou nenhum gênio ou talentoso. Um gênio é aquele que observa e deduz com facilidade. Eu tenho que passar pelo mesmo processo que todo mundo: muito esforço e muito estudo, diários.

O que me deixa frustrado é que a platéia de ontem e muitos tantos que já cruzei pelo caminho, tem tempo de sobra, dinheiro de sobra, motivos de sobra, mas nenhum consegue sair daquele pensamento conformista: "eu não sei, mas a maioria também não sabe mesmo …". Esse pensamento é anti-darwinista, é anti-evolucionista, é anti-tudo. "A maioria" nunca é, e nunca será, um parâmetro. O problema é que desde criança somos treinados para sermos maioria, para sermos obedientes, para sermos funcionários. Felizmente, em algum momento da minha infância, eu questionei o conceito da "maioria", mas isso também fica para outra vez (percebam que tenho vários assuntos que gostaria de falar).

O ponto é que não há desculpas para tanta gente, com tantas condições, negligenciar tanto assim a busca pelo Conhecimento. Dedicam-se a coisas fúteis como comprar o carro do ano, viajar o tempo todo, comer em restaurantes caros. Tanto gasto em tanta futilidade. Não precisam parar com isso, mas nem tanto oito nem tanto oitenta. Estamos na "Era da Informação", nossa época não foi batizada dessa maneira há toa.

Think about it.

Sejam Bem Vindos!

Sou um ser antigo -- talvez não tão antigo quanto os que desbravaram as PDP-11, ou mesmo os que puderam ter Sinclairs e Apple II nos findos anos 80 --, significa que quando eu comecei a surfar pela super rodovia da informação, "Blogs" eram uma palavra fora do nosso vocabulário.

Mesmo assim, só hoje (10/nov/2005) resolvi começar meu primeiro Blog. É algo um tanto estranho. Porém, novas experiências sempre são gratificantes, principalmente se envolve algum tipo de troca de conhecimentos.

Nesses últimos anos que andei percorrendo o mercado, vi, ouvi e vivi situações interessantes, refleti muito sobre vários assuntos -- tanto técnicos quanto humanos. Sempre quis escrever um livro a respeito, mas não sei se seria conseguiria compilar um tema acessível ou mesmo aceitável para a maioria. Por isso estou experimentando esse novo paradigma que tem tudo a ver com a Era da Informação: informações desestruturadas, fora de ordem, ao sabor das lembranças. Espero que gostem.