Fabio Akita Report

Às vezes filosofando, às vezes sendo pragmático. Por vezes duro e severo, outras mais diplomático. Eventualmente vendendo, eventualmente realizando. Assim é a vida de um consultor em sistemas de informática de grandes empresas. De esquina em esquina, ouvimos histórias interessantes. Não sei se são interessantes, mas vou reportá-las, mesmo assim.

quinta-feira, novembro 10, 2005

Inglês e Conformismo

Terça e quarta agora (8 e 9/nov) estive num Workshop de apresentação de um novo produto, muito bom por sinal. NDA (Non-Disclosure Agreement): infelizmente nos fizeram assinar esse documento. Pessoalmente não apoio muito esse conceito. Acredito que toda informação deveria ser publicamente "disclosed". Mas algumas vezes realmente podemos acabar comprometendo pessoas e instituições.

Neste Blog, pretendo manter nomes de pessoas, empresas e produtos "non-disclosed", tanto para não quebrar acordos como para não quebrar a ética acidentalmente. A parte ruim é que as informações podem ficar um tanto genéricas, mas a parte não tão ruim é que o importante -- minhas opiniões e reflexões -- não devem perder sentido com isso.

Deixando o assunto do NDA de lado, devo dizer que foi um Workshop interessante, levando em consideração que a maioria não é. Chamemos a empresa responsável de "Giant Blue" (porque Big Blue é notoriamente a IBM, mas não estamos falando dela). Pois bem, a Giant Blue trouxe dois representantes desse novo produto direto de Los Angeles. Portanto, a parte boa é que tivemos informações em primeira mão, tanto sobre as estratégias comerciais como técnicas, diretamente da fonte. Isso não tem preço.

Mas a parte que me incomodou mais foi o seguinte: esse evento foi fechado a funcionários da G.Blue e a representantes de parceiros, eu incluso. Enquanto apenas os gringos falaram tudo correu bem, mas depois tivemos um hands-on: um tipo de test-drive do produto. Nessa hora, eu fiquei pasmo: pessoas consideradas sêniors, profissionais "teoricamente" de bom gabarito, mal conseguiam se comunicar em inglês. Foi uma coisa lamentável. Posso garantir que ninguém entendeu metade do que lhes foi dito. Digo isso porque eu olhava para os rostos das pessoas e todas faziam aquela cara de "duh", alguns coçavam a cabeça, outros ficavam olhando a hora rezando para que essa tortura acabasse logo, outros haviam desencanado completamente e ficaram lendo e-mails. O americano deve ter se sentido no meio de homens das cavernas, tentando expressar algo mais do que "uga-bugas".

Acho até que ele entendeu essa situação e também desencanou: como a quantidade de coisas a dizer era grande, ele pisou no acelerador e mandou ver. Falando muito rápido, intercalando explicações técnicas com observações pessoais e algumas piadas, acredito que a platéia ficava cada vez mais pasma, imaginando "caramba, do que esse gringo está falando?".

Isso é péssimo! Sinto-me muito envergonhado que esses ditos profissionais do mesmo setor que eu mal consigam se expressar com nossos vizinhos. Concordo que nosso país tenha uma séria deficiência em termos de educação. Volto a falar sobre isso em outra oportunidade. Mas esse pessoal representa justamente aquela ponta da pirâmide: os bem abastados, os privilegiados. Ser um "privilegiado" deveria representar mais do que apenas ter dinheiro, mas ter realmente conhecimento. Hoje em dia, não há mais desculpas para não saber inglês fluentemente. Coreanos, no primário, já começam aprendendo SETE (7) línguas, numa rotina de NOVE (9) horas de estudos. Em vez de continuar com essa nossa xenofobia enrustida fantasiada de falso patriotismo, deveríamos aprender mais com nossos vizinhos.

Quando era criança, meus pais me colocaram numa escola japonesa. Durante algum tempo aprendi alguma coisa da língua de origem de meus antepassados. Sinto não ter continuado. Mas nessa época sabia que precisaria aprender inglês, portanto decidi sair das aulas de japonês e ingressar num curso de inglês quando estava no colégio. Mas era um curso muito fraco, notava isso pela extrma baixa qualidade dos meus colegas. Eu mesmo não era muito bom. Era melhor do que a média, mas desde quando ser melhor do que uma média ruim significa alguma coisa?

Na faculdade, ainda não tinha me acostumado. Mas tenho uma qualidade (ou talvez defeito?) que é a inveja: conheci um colega que nessa época devorava livros e livros em inglês. O conhecimento da minha área -- informática -- está toda em inglês ou outras línguas. Os livros nacionais não passam de traduções e, por causa disso, sempre estão defasados. Corroí-me na minha mediocridade e decidi que o ultrapassaria. Esse é o efeito da minha inveja: ultrapassar limites. Desisti de comprar livros em português e resolvi me empenhar a aprender. Nessa época já não fazia mais nenhum curso de línguas, desisti durante meu terceiro colegial para me dedicar ao vestibular. Felizmente passei na primeira opção dos cursos que escolhi, nas três únicas universidades que me interessavam, mas isso também é outra história.

De qualquer forma, desde então me forcei a ler livros, revistas, websites em inglês. Com o advento do DVD pude melhorar mais ainda, assistindo todos os filmes com legendas em inglês e mais tarde sem legenda. Correspondi-me com estrangeiros pela Internet (algo impensável 15 anos atrás) e sempre que tinha a oportunidade, em eventos e congressos, fazia questão de me apresentar aos palestrantes estrangeiros e trocar informações.

Hoje, um evento como os dos dois últimos dias, é algo trivial para mim. Mesmo morando no Brasil, conversando com brasileiros, mantenho meu inglês em dia assistindo vídeos, palestras pela internet, lendo noticiários diários das mais variadas fontes. E os resultados são notáveis, visto que nesse tipo de evento normalmente ninguém consegue engatar numa conversa produtiva por tanto tempo com esses estranhos estrangeiros, quanto eu. E isso não é nada demais. Não sou nenhum gênio ou talentoso. Um gênio é aquele que observa e deduz com facilidade. Eu tenho que passar pelo mesmo processo que todo mundo: muito esforço e muito estudo, diários.

O que me deixa frustrado é que a platéia de ontem e muitos tantos que já cruzei pelo caminho, tem tempo de sobra, dinheiro de sobra, motivos de sobra, mas nenhum consegue sair daquele pensamento conformista: "eu não sei, mas a maioria também não sabe mesmo …". Esse pensamento é anti-darwinista, é anti-evolucionista, é anti-tudo. "A maioria" nunca é, e nunca será, um parâmetro. O problema é que desde criança somos treinados para sermos maioria, para sermos obedientes, para sermos funcionários. Felizmente, em algum momento da minha infância, eu questionei o conceito da "maioria", mas isso também fica para outra vez (percebam que tenho vários assuntos que gostaria de falar).

O ponto é que não há desculpas para tanta gente, com tantas condições, negligenciar tanto assim a busca pelo Conhecimento. Dedicam-se a coisas fúteis como comprar o carro do ano, viajar o tempo todo, comer em restaurantes caros. Tanto gasto em tanta futilidade. Não precisam parar com isso, mas nem tanto oito nem tanto oitenta. Estamos na "Era da Informação", nossa época não foi batizada dessa maneira há toa.

Think about it.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial