Faz tempo que não escrevo neste blog. Ando muito ocupado com trabalho e nas horas vagas acabo escrevendo no meu outro blog, o Balance on Rails, exclusivamente sobre a tecnologia Ruby on Rails. Mas vez ou outra vem aquela vontade de manifestação. Antigamente seríamos caras-pintadas mas atualmente gritamos na blogosfera. Felizmente a voz da internet tem se intensificado nos últimos anos. Isso é bom, dessa forma posso me manifestar sem sair do conforto da minha casa. Assim como Mainardi faz na sua coluna da Veja.
Para quem não conhece Diogo Mainardi é provavelmente "O" colunista mais polêmico do Brasil. Anti-lulista radical de carteirinha. Segundo ele mesmo, seu hobby é pentelhar o governo. Mais ainda: pentelhar quem apóia o governo, principalmente se forem colegas jornalistas.
Por isso mesmo adoro a Veja. Assino e vejo domingo de manhã sem falta, começando a folhear pela coluna do Mainardi. Uma polêmica que atingiu toda a comunidade de imprensa foi com uma coluna onde ele atacou diretamente diversos nomes como Eliane Catanhêde, Helena Chagas, Franklin Martins. Esse último, reconhecido como herói contra a ditadura e ex-jornalista da Rede Globo.
"Ex" porque depois das polêmicas de Mainardi, seu contrato não foi renovado (embora ambos os lados publicamente dizem que não teve nada a ver). Mainardi acusa Franklin de ser macomunado dos petistas, com irmão na Petrobrás e esposa ajudando Mercadante.
Franklin não resolveu levar a briga adiante e fez circular uma carta desafiando Mainardi a encontrar um senador que compactue com suas acusações "se aparecer um, eu deixo de ser jornalista", resumindo. Partindo do princípio que políticos não dizem a verdade a menos que lhes interesse, foi um desafio sem sentido: não dá para provar nada assim. Mas mesmo assim, Mainardi ainda publicou uma tréplica ao desafio acusando Franklin de estar envolvido no episódio onde vazou o extrato bancário do Francenildo, o caseiro do caso Palocci, para a imprensa.
Não importa se Franklin está certo ou errado. Não importa se ele já foi herói no passado. As benfeitorias do passado não eximem da culpa do presente nem do futuro. O ser humano é obrigado a se provar constantemente. Portanto não me venham com "mas no passado ele fez isso e aquilo". Isso e nada é a mesma coisa. Se errou agora, isso apaga tudo que fez de bom antes. O fato é que a imprensa sempre esteve muito macomunado com o PT. Não apenas jornalistas, mas principalmente os pseudo-jornalistas e "artistas". Gilberto Gil que o diga. Tirando publicações explicitamente de direita como a Veja ou o Estado, o resto da imprensa está exatamente como as instituições da nossa nação: em decadência.
Não existe democracia em uma sociedade que não é civilizada. E civilização pressupõe educação. Não importa quem é governo: PRN, PSDB, PT. Para essa geração de políticos existe uma coisa que é máxima: a educação nunca foi prioridade. Desde a queda da ditadura, esse ponto nunca mudou. Uma população sem educação não é civilizada. E sem civilização não existe democracia. Temos uma ditadura travestida de democracia, uma República onde as instituições são tão soberanas quanto sua tabela de preços.
Apenas ficou mais óbvio nesses últimos anos de PT: Roberto Jefferson, mensalão, Delúbio Soares, malas de dinheiro, Genoíno, dinheiro na cueca, Gushiken, mais de um milhão de cartilhas superfaturadas para o partido, Marta, obras superfaturadas, Lulinha e os 5 milhões da Telemar. Agora temos os sanguessugas, Vedoins e caso da IstoÉ e o falso-dossiê. De quem são os 1,7 milhões? Por que será meu bolso está coçando? Outra vez?
E o Lula não sabe de nada, não viu nada, não falou nada, como na história dos três macacos. Mas não vou ofender nossos irmãos símios com comparações de baixo calão. Mas o resultado assombroso e óbvio é observar a falta de civilização de nossa população. Nunca um governo foi tão escancarado como o do PT. Nunca os escândalos foram feitos tão abertamente.
"Contanto que não falte prato de comida em casa, não tem problema". Esse é o pensamento da população. "Se fosse eu, fazia a mesma coisa", pensam outros. "Eles podem, então deixem fazer", murmuram outros. É um inconciente coletivo de consolação, de aceitação da própria situação miserável.
Os votos foram tão bem comprados com coisas simples e caras como o Bolsa Família que as pesquisas nem piscam com esses escândalos todos. Os pobres aposentados do INSS saberiam o que dizer, pena que muitos mal consigam andar nem tenham saúde para se manifestar. É o plano perfeito: os jovens de hoje são completamente desinteressados pelo futuro, principalmente com a quase falência da educação. Os trabalhadores se conformam com dez reais a mais no salário mínimo. As donas de casa agradecem o "abençoado" Bolsa Família. E os pobres velhinhos estão cansados demais para reclamar. E na população em geral todos já aceitaram "o Brasil não foi feito para dar certo".
Por que? Por que nosso promissor mercado calçadista do sul não deu certo? Passou sexta agora no Globo Repórter: 3 mil profissionais especializados do setor se mudaram daqui para a China, para produzir calçados de qualidade pela metade do preço. Os brasileiros que estão na China não querem voltar. Nem eles nem aqueles que estão nos Estados Unidos, no Canadá, em Londres, no Japão. A vida é difícil, dá saudades, algumas regiões são xenófobas, algumas tem suas próprias versões de MST. Mesmo assim todos sabem que não vale a pena voltar para o Brasil.
E talvez tenham todos razão. Uma população conformista é propícia a beneficiar corjas como o PT. Falta ao brasileiro um pouco de Mainardi. Não de agressão pura e simples, mas de agressão direcionada. De sadismo. De ironia. De crítica. Falta ao brasileiro se auto-criticar em vez de apenas sentir pena de si mesmo. Em vez de ficar chorando pelos cantos. Em vez de ser conformista apenas para se sentir vítima, esperando outra pessoa vir lhe socorrer. Falta ao brasileiro saber se socorrer.
E isso não significa o "jeitinho brasileiro". Aliás, é exatamente esse jeitinho que levou os corruptos ao poder máximo da República. Passamos por um Golpe de Estado e ninguém nem percebeu. Quando foi que esses ladrões todos passaram a morar no planalto? É como se o Marcola estivesse dormindo na minha cama junto com minha esposa. É a isso que os brasileiros se conformaram. Graças ao tão orgulhoso "jeitinho". Nem em outros países os brasileiros sabem se comportar. Passou no mesmo Globo Repórter: o primeiro brasileiro em Londres com vergonha dos brasileiros que queimaram o próprio filme "está difícil até abrir conta em banco". Parabéns, continuem falando só de futebol e samba.
E falando em futebol. Todo mundo acha que pode ser melhor que o técnico da seleção. Todo mundo acha que pode ser presidente da República. Todo mundo só acha. Achar eu também acho. Eu acho que eu deveria ser imperador da minha própria dinastia. A diferença é que eu faço. Só que não vejo mais ninguém fazendo. Pobre Fernando Gabeira, deve ser o último dos moicanos em uma terra de ninguém no Congresso Nacional.
As eleições estão aí. O último escândalo dos Vedoin veio bem a calhar, mas o efeito está muito moroso. O Lula caiu pouco nas pesquisas por conta disso. Tem que cair mais. Eu sempre voto nulo. Sei que nenhum político merece meu voto. Sei que deveria estar planejando deixar o país muito rápido, e quem sabe eu faça isso mesmo. Tenho as condições, tenho a civilidade para tal. Mas por alguma razão, deixar um tipo como o Lula, um anafabeto que publicamente desincentiva a educação -- "ler livros é cansativo", que publicamente apóia a corrupção -- "meu querido Delubio", "meu amigo Dirceu", "meu companheiro Palocci", que publicamente apóia o jeitinho -- "meu filho estava apenas querendo subir na vida", que se diz igual aos pobres o oprimidos com uma gorda conta bancária e usando helicóptero da presidência para levar os amiguinhos dos seus filhos para viajar. Um sujeiro como esse deveria merecer apenas minha ignorância, mas no caso do Lula, ele está conseguindo trazer à tona o pior de mim.
Em um país onde o "jeitinho" tomou conta de tudo, ninguém tem autoridade para falar em "ética", muito menos os jornalistas, colunistas, artistas e pseudo-intelectuais S/A. Por isso mesmo, em um país no caos como está é que colunistas da estirpe de Diogo Mainardi são necessários. Se fôssemos como os canadenses, como os londrinos, até mesmo como os chineses, um Mainardi seria dispensável. Mas é exatamente em momentos como os que vivemos que um Mainardi é mais necessário. É ainda mais necessário que se crie um efeito viral: todos devemos ser Mainardis. Temos que, literalmente, aporrinhar o governo e os governantes.
Servidores Públicos, Vereadores, Deputados, Senadores, Presidente. São todos IGUALMENTE servidores públicos. Resumindo: são meus funcionários, são seus funcionários. Eu não devo nada a eles: eles é quem me devem serviço. Eu pago adiantado para isso. Todos pagamos adiantado por um serviço que nunca recebemos. É como pagar R$ 100 adiantados em um restaurante e esperar uma hora por um garçom que não nos atende e ainda cospe na nossa comida. Lula é esse garçom. Jamais contrataria um indivíduo desse.
Os jornalistas tem uma voz porque nós a ouvimos. Também não devemos nada a eles. Eles é quem precisam de nós para terem um emprego. São tão funcionários quanto eu ou você. Não preciso ser fã deles. Aliás, eles não deveriam ter fãs. Nunca vi ninguém fã de um recepcionista -- a não ser se for "A" recepcionista, mas aí estaríamos apenas sendo machistas.
Mainardi acusou Franklin? Parabéns, eu teria feito o mesmo. Mainardi acusou Caio Túlio? Eu faria o mesmo, principalmente por manter o blog de um ladrão do calibre do Dirceu. Se eles se dizem tão ecumêncos assim, cadê o blog do Marcola? "A Veja também está no iG", bla bla. Sim, já ouvimos essa desculpa também. Infelizmente empresas precisam fazer dinheiro para sobreviver. Nem por isso ela demitiu o Mainardi.
Vamos lá, precisamos acordar o Mainardi que existe em cada um de nós. Precisamos nos revoltar. Mas não adianta irmos para as ruas em um dia e depois esquecermos de tudo. Temos que ser chatos, temos que ser mesquinhos, temos que contar os centavos, temos que lotar os e-mails, secretárias eletrônicas, caixas de correios de todos os políticos do Brasil. Sermos perseguidores implacáveis, ao ponto deles quererem deixar o país. "Se não sabe brincar, não desce pro play". Eu sou cobrado pela minha performance profissional. Isso me deixa com mais vontade ainda de ENCHER O SACO dos políticos, porque nenhum deles jamais terá uma fração da minha competência diária.
Vamos lá, as eleições são domingo: lembrem-se do Mainardi!